sábado, 24 de outubro de 2009

MST para além das lutas agrárias


No dia 23 de Outubro de 2009, uma caravana de vereadores petistas estiveram na cidade de Iaras em visita ao MST e para acumularem melhores informações sobre as questões envolta a ocupações naquela região.

O recente episódio envolvendo um agrupamento do MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra na cidade de Iaras e estampado nas imagens de Tvs, Jornais e todos os demais meios de comunicação reportam a mais profunda necessidade de revisão de conceitos e meios empregados na análise conjuntural, que nós militantes de esquerda, nos vemos, de vez em quando repetindo, pela esquerda os mesmos conceitos e preconceitos que os impetrados pela direita, como no caso em tela, ou então, nos calamos na hora da defesa de parceiros históricos como é caso do MST. Esta mídia se apropria da mentira e dos descaminhos dos fatos para justificar e amplificar os efeitos da ação em Iaras.

Ao que pese os ataques sofridos pelo movimento dos trabalhadores rurais, a página mais cruel e triste não foi a unificação da direita em torno do fato, mas o silêncio de grande parcela das instituições de esquerda, sobretudo em São Paulo. Um silêncio que poderá vir a falar mais alto que a sádica voz daqueles que se colocam ao lado do latifúndio, dos exploradores e sangue sugas da especulação fundiária, caso não tomemos a iniciativa de romper com a inércia e o silêncio

Em São Paulo berço dos acontecimentos, sobre tudo o PT, tem condições de restabelecer a verdade e esclarecer a população sobre o que de fato esta acontecendo em Iaras, onde terras públicas federais, foram tomadas por empresas ligadas ao agronegócio, multinacionais que não estão pagando os impostos pela terra utilizada, já que esta é patrimônio da União, explora mão de obra barata, dos próprios sem terra daquela localidade, e capta financiamento com dinheiro público para aplicar em seus negócios, tendo como base terras que não tem titularidade! O PT deve então tomar “partido” ao lado dos trabalhadores.

Temos uma estrutura partidária com largo acúmulo nas questões agrárias, com estudos, apontamentos e elementos capazes de mostrar a sociedade, a dura realidade da concentração fundiária no Estado mais rico da federação.

De mostrar à população, que a pequena propriedade rural é capaz de gerar mais emprego que os grandes conglomerados do agro negócio, que a média da produção da agricultura familiar no Brasil ocupando apenas 24% da área agrícola, produz 38% da riqueza desse setor produtivo; emprega 75% da mão de obra no campo; responde por 87% da produção nacional de mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 38% do café , 34% do arroz, 21% do trigo, 58% do leite, 59% do plantel de suínos, 50% das aves e 30% dos bovinos, um contraponto frente as grandes propriedades que se traduz como a maior concentração da propriedade da terra do mundo.

Menos de 15 mil latifundiários detêm fazendas acima de 2,5 mil hectares e possuem 98 milhões de hectares. Cerca de 1% de todos os proprietários controla 46% das terras.

É preciso dizer que parte das empresas mais ricas estabelecidas nas cidades, são também as maiores concentradoras de terra no meio rural.

É preciso ter a coragem de dizer que a terra hoje ocupada pela empresa Cutrale, maior exportadora de sucos do Brasil e do mundo, construiu seu império em Iaras sobre terra devoluta, ou seja, terra pertencente à União, terra grilada, terra que não pertence a iniciativa privada e sim ao Estado brasileiro, portanto passiva de ser objeto de projetos de reforma agrária.

Esta mesma terra vem sendo questionada sua legalidade e posse pelo Incra, que trata as questões fundiárias, maior autoridade no pais. Por tanto, não são os trabalhadores que tomaram de assalto esta área. O Incra lista esta área como área devoluta e passiva de estar sob o domínio dos trabalhadores organizados.

Não são os trabalhadores que deverão pagar por uma compra mal feita ou por uma compra oportunista realizada pela empresa Cutrale. Esta compra indevida é o ápce da questão e não a desocupação realizada.

Nosso partido não silenciará diante de tanta necessidade de voz ao lado dos trabalhadores. Um partido que retardou sua chegada a presidência da república por mais de uma década em função da edição de um debate realizado pela TV Globo e apoiada por outros órgãos de imprensa com raras exceções, não se pautará e silenciará frente as manipulações desta mesma mídia, não voltará as costas aos trabalhadores que sangram diariamente por aquilo que fizeram e principalmente por aquilo que a direita através dos meios de comunicação querem fazer crer ao povo brasileiro que fizeram.

Refazer análises e intervir neste momento é uma forma de consolidar o PT como um partido de esquerda, responsável mas de “lado” definido e lutar para que tenhamos hegemonia na sociedade fruto de nossas lutas e nossos acúmulos de políticas sociais é o desafio sobretudo neste momento de PED, que é o processo interno de renovações das direções partidárias. Conclamamos a todos pela solidariedade ao povo que luta pela reforma agrária, punição aos criminosos e elucidação dos fatos em Iaras.


Carlos Nascimento
Vereador (PT) – Araraquara

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