segunda-feira, 11 de abril de 2011

NASCIMENTO APRESENTA REQUERIMENTO PEDINDO A INSERÇÃO NOS ANAIS DA CÂMARA, O ARTIGO “CINE CORAL: TRAVAMOS UMA GUERRA FEROZ”.

CINE CORAL: TRAVAMOS UMA GUERRA FEROZ

O que antes nos pareceu uma negociação tranqüila – a desapropriação amigável do cine coral – de súbito converteu-se numa batalha sangrenta: os proprietários, imprevisível e sorrateiramente, ordenaram a demolição do imóvel.


Por Marcos Valério Murad*
O que antes nos pareceu uma negociação tranqüila - a desapropriação amigável do cine coral - de súbito converteu-se numa batalha sangrenta: os proprietários, imprevisível e sorrateiramente, ordenaram a demolição do imóvel. Saíamos de um café-da-manhã na biblioteca municipal, no sábado passado, ao qual compareceram mais de cem pessoas, entre as quais deputados, vereadores, secretários municipais, artistas, comerciantes e toda a imprensa araraquarense. Estávamos felizes por termos obtido apoio entusiasmado de todas essas pessoas, quando, ao voltarmos para nossas casas, testemunhamos a destruição brutal do prédio. Surpreendeu-nos a indignação do vereador Nascimento, que vociferou contra a turba de funcionários munidos de britadeiras. Feito um Dom Quixote com a espada em riste, com a têmpera de homem justo, paralisou-os, convencendo-os a cessar a demolição. Na segunda-feira, o mesmo vereador conseguiu outra vitória: o Ministério Público entrou com uma ação e o Poder Judiciário concedeu liminar ordenando a suspensão das obras.
No dia anterior, no entanto, a Tribuna do dia 27 de março publicou matéria segundo a qual o prefeito havia confirmado sua decisão de não comprar a sala cinematográfica. Ele disse que, se o fizesse, beneficiaria apenas um pequeno grupo, comprometendo, ademais, a saúde financeira do município. Escandalizou-nos tal opinião, porque julgamos que o cine Coral, se restaurado, não favoreceria somente um pequeno número de pessoas, mas sim toda a população do Carmo e da cidade. Dimas Eduardo Ramalho, no discurso feito na biblioteca municipal (sábado de manhã), lembrou que um cinema de rua deve trazer às crianças os mesmos benefícios oferecidos pela escola. Segundo ele, ao assistir a um bom filme, o menor forma o senso crítico e estético. Compartilhamos da mesma opinião e achamos que as crianças moradoras do subúrbio, necessitadas de entretenimento edificante, encontrariam em um cinema como o Coral - ao contrário das salas em Shopping Center, com ingressos caríssimos e muito distantes do centro - uma maneira bem barata de se divertirem, de engrandecerem o espírito, sem percorrerem grandes distâncias.
A experiência em São Carlos e Ribeirão Preto confirma que há afluência enorme de espectadores nos cinemas antigos e centrais dessas cidades. Há neles três sessões diárias com preços que variam de R$ 3,00 a R$ 5,00. O sucesso é notório. E temos recebido adesão farta do povo a nosso projeto. Quanto à parcela de autoridades que insiste em nos dar as costas, ao se negar a comprar o imóvel, só podemos dizer-lhe que está jogando no lixo a possibilidade de receber milhares de votos. A população araraquarense dá apoio total e emocionado ao nosso intento e ficará certamente muito decepcionada com o político que se recusa a satisfazê-la.
Estamos, enfim, ansiosos por retomar um espaço onde adquirimos o gosto pela beleza, a capacidade de ver criticamente o mundo, o desejo de ser melhores cidadãos. Um lugar, enfim, onde nos divertimos, nos educamos e nos comovemos. Sentiríamos uma sensação macabra e uma tristeza imensa, se passássemos por lá e, em vez do Cine Coral, um templo que por quarenta anos nos ofereceu um fino prazer, nos deparássemos com uma loja de veículos usados. Para terminar, já que acima falamos de votos, gostaríamos de dizer o seguinte: devemos meditar muito na próxima eleição para prefeito. Devemos, assim, para não nos frustrarmos com uma eventual administração avessa à arte, fixar-nos num candidato que tenha boa sensibilidade artística e queira preservar com eficácia os nossos bens históricos.
*Livreiro e doutor em literatura pela Unesp
marcosvaleriomurad@hotmail.com

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